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  • Há uma revolução iminente na forma como as empresas pensam, falam e lidam com os problemas de saúde mental. À medida que a pandemia desaparece dos holofotes, deixa em seu rastro novas realidades para os líderes que lutam para conter o agravamento dos quadros de ansiedade dos funcionários – e de seus próprios.

    Momentos de dificuldade representam desafios críticos para nós seres humanos, mas podem ser ainda mais difíceis para quem ocupa posições de liderança. 

    Ser líder é uma responsabilidade significativa. 

    Normalmente indica que todos admiram você, principalmente nos momentos em que há uma preocupação no ar.

    E é nessas horas que os hábitos mentais desenvolvidos ao longo da vida, desempenham um papel significativo na maneira em que um líder reage a uma situação controversa. Nossas respostas e ações são em grande parte determinadas por vias neurais que se desenvolveram por meio de práticas, rotinas e hábitos ao longo dos anos. 

    Assim, a maneira que encontramos de neutralizar o poder dos nossos maus hábitos é treinar consistentemente o nosso cérebro para seguir novos caminhos e estabelecer novas rotinas. Em outras palavras, devemos cultivar um alto nível de autoconsciência e autogestão.

    “Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta reside o nosso crescimento e a nossa liberdade.” Victor Frankl, autor de Man’s Search for Meaning

    Mas então, quais hábitos contribuem para um melhor desenvolvimento da saúde mental nos líderes e também nas empresas? Vamos descobrir a seguir.

    Saúde mental no local de trabalho

    Em julho de 2020, Lenny Mendonça, o ex-conselheiro-chefe econômico e empresarial do governador da Califórnia, Gavin Newsom, revelou publicamente sua renúncia abrupta ao cargo devido às lutas enfrentadas com problemas debilitantes de depressão.

    Não somente em virtude da pandemia, mas de uma tendência que vinha antes dela, a saúde mental está no centro de um movimento empresarial global. 

    Durante a última década, líderes de todo o mundo se perguntaram como tornar a saúde mental um objetivo empresarial e incluí-la na agenda da diretoria. Agora, a pandemia aumentou a necessidade, mas também aumentou a coragem dos líderes para se apoiarem nessa agenda.

    Executivos seniores apontam consistentemente que as discussões sobre saúde mental se tornaram muito mais frequentes e abertas nos locais de trabalho. Houve uma mudança notável na disposição das pessoas em revelar as dificuldades com questões de saúde comportamental.

    Conforme uma pesquisa realizada pela plataforma de saúde mental para empregadores, Ginger, os funcionários estão mais propensos a procurar ajuda com estresse, ansiedade e depressão agora do que há cinco anos. 

    Mais importante ainda, 91% dos trabalhadores questionados acreditam que os seus empregadores deveriam se preocupar com a sua saúde emocional, e 85% disseram que os benefícios de saúde comportamental eram importantes ao avaliar um novo emprego. 

    Seja com foco no líder ou no trabalhador, o mercado, o contexto global de crises e a natureza da vida atual têm demandado uma nova mentalidade organizacional que priorize a saúde mental.

    Onde a saúde mental se enquadra na agenda ESG?

    os que as empresas estão levando o ESG muito a sério, e enquanto o “E” e o “G” são bem compreendidos e estabelecidos por elas, ainda falta uma melhor compreensão e aplicação do “S” na prática. 

    O impacto social abrange o que acontece dentro de uma organização e isso inclui colocar a saúde mental no local de trabalho nas agendas dos conselhos de administração e nas análises de riscos.

    Estabelecer ações como realocação de recursos para a contratação de líderes de bem-estar, oferecer soluções digitais de saúde mental, como aplicativos que ajudam na meditação e no sono ou até mesmo incluir mais benefícios nesse sentido na cobertura de saúde dos funcionários são algumas das muitas possibilidades que podem fortalecer a iniciativa ESG, dentro dessa demanda do mercado.

    Você deve compartilhar suas ansiedades como líder?

    Mapeamos a paisagem da atual conversa sobre saúde mental no ambiente de trabalho para destacar a importância de os líderes não evitarem esse assunto, mesmo quando eles próprios podem ser afetados por questões significativas, especialmente em relação à ansiedade. 

    A ansiedade pode ser definida como a preocupação com o que pode acontecer no futuro. Às vezes esse medo é racional e às vezes não. Pode ser sobre algo que vai acontecer em três minutos, como subir no palco para fazer uma apresentação, ou em 30 anos, como ter dinheiro suficiente para se aposentar.

    Alguma ansiedade pode ser racional e útil, levando os líderes a tomar medidas construtivas, como planejar proativamente uma estratégia futura para a sua organização. O problema acontece quando você está tão preso à sua própria ansiedade que isso obscurece sua capacidade de pensar e ver com clareza. 

    A definição de líder é alguém com quem todos podem contar a qualquer momento para ser a força da equipe. E a consequência mais indesejada da ansiedade da liderança, quando não controlada, é transmitir essa ansiedade às suas equipes. 

    Mas, ao mesmo tempo, a psicóloga social Amy Cuddy nos diz que “os líderes que projetam força antes de estabelecerem confiança correm o risco de provocar medo e, com ele, uma série de comportamentos disfuncionais.” Nesse sentido, é seguro dizer que poucas coisas estabelecem a confiança de forma mais eficaz do que a ligação emocional promovida através da empatia e da humanidade partilhada.

    É por isso que ser aberto sobre sua própria ansiedade pode ser poderoso. Então, surge uma dúvida comum aos anseios de líderes que desejam governar com mais humanidade: como dizer a verdade sem sobrecarregar seu pessoal com detalhes sobre suas inseguranças?

    Expressar a vulnerabilidade como um ponto forte e não como uma fraqueza a ser evitada. Quando você demonstra vulnerabilidade, não está transmitindo a mensagem de que é incompetente ou de que não sabe o que está fazendo. Em vez disso, você parece uma pessoa altamente autoconsciente, disposta a aceitar a realidade de sua situação. 

    Existe um equilíbrio tênue entre ser vulnerável e dizer coisas que fazem os outros perderem a confiança na sua competência. 

    Concentre sua mensagem no que pode ser controlado, demonstre humildade confiante – humildade para reconhecer o estado das coisas como elas são e confiança na sua capacidade de consertá-las.

    Dizer “Estou assustado com esta decisão” apenas transmite que você se preocupa em acertar. Dizendo “Sei que alguns de vocês podem estar ansiosos com a fusão. Eu também estou sentindo isso”, faz com que outras pessoas se conectem com você pessoal e emocionalmente. 

    Lenny Mendonça, que mencionamos anteriormente, deixou essa mensagem em seu desabafo público: “O que significa sobre mim o fato de ter um problema de saúde mental? Diz que sou humano.”

    3 exercícios para gerenciar a ansiedade da liderança

    Além de ser franco sobre suas emoções, alguns exercícios simples podem ser fundamentais na missão de liderar sob ansiedade.

    1. Abrace os sentimentos desconfortáveis

    Psicólogos afirmam que quanto mais você tenta controlar sua ansiedade, mais ela reage. O treinador de liderança e CEO da Reboot, Jerry Colonna, diz que a melhor maneira de lidar com sentimentos desconfortáveis ​​é recebê-los. 

    Décadas de investigação sobre inteligência emocional mostraram que as pessoas que compreendem os seus próprios sentimentos têm maior satisfação e desempenho no trabalho, além de melhores relacionamentos.

    Sempre que experimentar emoções intensas, questione a si mesmo o seguinte: estou percebendo algum desconforto em meu corpo? Sinto meu coração e mente acelerados? Estou tendo dificuldade em manter a concentração? Posso identificar essas respostas físicas, como mãos suadas, uma sensação de desconforto no estômago e aperto no peito?

    Uma vez que você consiga enfrentar seu desconforto e questioná-lo, você será capaz de reconhecê-lo.

    1. Identifique os gatilhos

    Saber identificar as origens da sua ansiedade possibilita uma maior consciência em relação a interações específicas, demandas no ambiente de trabalho ou situações que podem desencadear esse estado durante sua rotina como líder. Assim, você poderá se preparar para lidar com sua ansiedade nesses momentos. 

    Como, por exemplo, você pode identificar que fazer reuniões com um grande grupo de pessoas deixa você ansioso. Sabendo disso, você pode estabelecer um plano para praticar suas habilidades de falar em público antes da reunião. 

    Para descobrir o que provoca sua ansiedade, examine as seguintes questões: existem circunstâncias particulares que o deixam ansioso? Como, por exemplo, quando você faz algo pela primeira vez, ou quando não tem certeza da sua decisão, quando está sob pressão, quando as coisas não correm conforme o planejado ou quando percebe uma perda de controle? 

    Você experimenta ansiedade ao interagir com certas pessoas? Faça uma lista dessas ocasiões.

    Você pode utilizar o feedback desses momentos para avaliar o impacto da ansiedade em suas ações e decisões, transformando-os em informações valiosas para melhorar no futuro.

    Reflita sobre eventos anteriores nos quais experimentou ansiedade e questione-se: como respondi à ansiedade naquele momento? Minhas ações foram úteis ou inúteis? O que posso fazer melhor da próxima vez? 

    A última pergunta é a mais importante porque muda instantaneamente sua mente do modo problema para o modo solução.

    1. Desacelere para agir com intenção

    Quando estiver ansioso, aprenda a procurar espaço. Desacelerar nesses momentos é a melhor maneira para evitar uma reação impulsiva e se preparar de forma consciente para uma resposta mais eficaz.

    Observe atentamente sua ansiedade e faça esse exercício: você está ansioso com os piores cenários? Dê uma olhada realista no que é provável e mais provável de acontecer. Não exagere nos seus piores medos.

    Você está ansioso com o futuro? Agora aceite o fato de que ele sempre será incerto. Não importa o quanto você tente, algumas coisas sempre estarão além do seu controle. Reconheça esse fato.

    Você está ansioso por não tomar a melhor decisão? Pense nas informações de que você precisa para tomar uma decisão melhor e procure pessoas que possam ajudá-lo. 

    Você definitivamente terá uma solução muito melhor do que a despertada inicialmente pela ansiedade.

    Por fim, lembre-se de que precisamos desesperadamente de melhores modelos de liderança, especialmente quando a sociedade nos diz que a ansiedade é um ponto fraco. 

    Pensamos que é um tabu falar sobre saúde mental no trabalho. Que não é possível entrar numa reunião de pessoal e dizer: “Estou ansioso hoje”. Essa é mais uma oportunidade para líderes corajosos iniciarem estratégias que sobreviverão ao seu mandato e deixarão um legado.