Dentro da logística estratégica que a Supply Chain engloba em uma empresa, ainda há pouca clareza e alguns mal entendidos sobre os termos e processos que influenciam todas as pontas da cadeia de suprimentos, muito por conta das constantes transformações que o mundo corporativo anda vivenciando. Uma prova disso são as grandes empresas que ainda não fazem distinção entre os papéis e responsabilidades mais apropriados entre compradores e analistas de suprimentos.
Apesar de serem tratadas como a mesma coisa, as posições destes possuem atuações fundamentalmente diferentes. Saber distingui-las e separá-las é essencial para a modernização do design de processos, mitigação de riscos e melhor aproveitamento de equipe dentro do setor e da empresa como um todo.
O gerenciamento da cadeia de fornecimento passou a ser uma das principais preocupações de CEOs, principalmente diante do cenário de ameaças e choques que impactaram os valores e funcionamento da área na última década: pandemia de Covid 19, guerra na Ucrânia, intempéries climáticas, inflação descontrolada e violações da segurança cibernética são apenas alguns dos casos.
Poderíamos continuar dando exemplos de como as organizações foram abaladas por vulnerabilidades e disrupções imprevistas no supply chain, custando milhares de dólares e perdas no ecossistema de fornecedores nos últimos anos. Mas, de acordo com uma pesquisa da McKinsey, os líderes da cadeia de suprimentos já entenderam que algo precisa mudar para confrontar essa realidade.
Os entrevistados pelo estudo mostraram estar em busca de novas soluções na estruturação da cadeia que possam deixá-la mais inteligente diante dos acontecimentos, além de mais competitiva. Deles, 90% planejam implementar mudanças nos próximos cinco anos, seja na adoção de novas tecnologias ou na reformulação de processos, enquanto 23% já o fizeram.
Redesenhando processos de Compras
No centro dessas crises, há sempre uma constante: a falta de processos robustos para identificar e gerir com sucesso os crescentes riscos na supply chain. Esse aumento de complexidade trouxe consigo mais pontos de falha em potencial e maiores níveis de risco.
Em vez de ficarem admirando as dificuldades ou procurarem soluções externas e mais caras, sugerimos que as organizações comecem a lidar com as questões detalhando a estrutura mais apropriada para o futuro de suprimentos.
Hoje, da forma como a maioria das empresas estão arquitetadas, o comprador abraça diversas funções além de aquisições, que acabam por sobrecarregá-lo e limitar seu tempo e atenção para ser estratégico em relação à gestão dos fornecedores ou com relação aos próprios drivers de preço do material que compram.
Além de lidar com todas as crises e estar preparado para as próximas, ainda recai sobre esse profissional a responsabilidade de disseminar o ESG pelos elos da cadeia de valor e o compromisso de implementar compras sustentáveis (ISO 20400), através de políticas ou metas internas. Mas a real pergunta a ser feita é: Compras deveria estar fazendo tudo isso mesmo?
Diferenças entre Suprimentos e Compras
Entender de fato a distinção dessas duas funções é crucial para um design de processos voltado para o futuro.
Enquanto Suprimentos tem uma relevância mais global de controle da produção de bens ou serviços críticos à organização, como por exemplo: estabelecer vendor list, gerenciar performance de fornecedores, seus documentos, seus riscos e estabelecer processos de governança da base de fornecimento, Compras atua como um processo sistemático através do qual estes bens e serviços são adquiridos e geridos. Suprimentos é, em essência, um termo amplo dentro do qual encontramos Compras.
Pelo fato de ‘Suprimentos’ ser um conceito bastante abrangente, incluindo funções-chave para o negócio, deveria ser considerado peça chave da estratégia corporativa de qualquer organização – e muitas já estão percebendo a necessidade de uma nova área mais estratégica para a gestão de fornecedores.
Implementando a Governança de Suprimentos
Assim como ter a produção dividida entre várias fábricas e não concentrar tudo em uma mega unidade pode ajudar uma empresa a se aproximar dos clientes e reduzir os riscos logísticos, uma melhor divisão interna de funções também tem o mesmo efeito.
Compras não deveria estar sobrecarregado fazendo também gestão de fornecedores – função que por sua vez deveria estar sendo feita de forma mais estratégica em uma nova área de suprimentos capaz de atuar com mais foco e previsibilidade, como por exemplo: Gestão de Fornecedores, Governança de Suprimentos, Governança de Fornecedores ou até mesmo Inteligência em Suprimentos. Estes são alguns dos novos títulos que vêm sendo adotados nas empresas para gerenciar essa função.
A gestão de fornecedores não se limita apenas ao estabelecimento de processos e modelos de governança, mas também implica gerenciar projetos voltados à incorporação de compras sustentáveis, reconhecimento e desenvolvimento de fornecedores diversos e locais, reverberando transformações culturais voltados a alavancagem de score em níveis empresariais de sustentabilidade redirecionando e impactando positivamente o mindset geral dos stakeholders internos. Por isso, as empresas devem reforçar esses elementos com a mudança organizacional apropriada, atualizações de processos de negócios, qualificação e engajamento interno.
Ao empregar essa nova distribuição de funções para a área de Suprimentos, as organizações aumentam suas chances de minimizar as disrupções, riscos e crises na supply chain, ao mesmo tempo que capturam pleno valor de suas estratégias, se colocando um passo à frente dos concorrentes.
No atual cenário, é inegável a importância de se estabelecer um mecanismo robusto de governança, aumentando a resiliência e a agilidade da supply chain de forma integral.